domingo, 9 de janeiro de 2011

Desintegração de velhos padrões de relacionamento social humano

"A terceira transformação, em certos aspectos a mais perturbadora, é a desintegração de velhos padrões de relacionamento social humano, e com ela, aliás, a quebra dos elos entre as gerações, quer dizer, entre passado e presente. Isso ficou muito evidente nos países mais desenvolvidos da versão ocidental de capitalismo, onde predominaram os valores de um individualismo associal absoluto, tanto nas ideologias oficiais como nas não oficiais, embora muitas vezes aqueles que defendem esses valores deplorem suas consequências sociais. Apesar disso, encontravam-se as mesmas tendências em outras partes, reforçadas pela erosão das sociedades e religiões tradicionais e também pela destruição, ou autodestruição, das sociedades do 'socialismo real'. (...)

Na prática, a nova sociedade operou não pela destruição maciça de tudo o que herdara da velha sociedade, mas adaptando seletivamente a herança do passado para uso próprio. Não há 'enigma sociológico' na disposição da sociedade burguesa de introduzir 'um individualismo radical na economia e (...) despedaçar todas as relações sociais ao fazê-lo' (isto é, sempre que atrapalhassem), temendo ao mesmo tempo o 'individualismo experimental radical' na cultura (ou no campo do comportamento e da moralidade) (...). A maneira mais eficaz de construir uma economia industrial baseada na empresa privada era combiná-la com motivações que nada tivessem a ver com a lógica do livre mercado - por exemplo com a ética protestante; com a abstenção da satisfação imediata; com a ética do trabalho árduo; com a noção de dever e confiança familiar; mas decerto não com a antinômica rebelião dos indivíduos."

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. SP: Companhia das Letras, 2001. p. 24-25.

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