segunda-feira, 8 de março de 2010

8 de março: lutar contra a opressão da mulher é lutar contra o capitalismo!


Declaração do Coletivo Marxista sobre o

Dia Internacional de Luta da Mulher

Neste ano de 2010 completam-se 100 anos da II Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, ocasião em que a militante alemã Clara Zetkin propôs a criação oficial do Dia Internacional das Mulheres. Por mais que ainda haja diferentes versões sobre o momento exato da definição do dia 8 de março para a data e mesmo sobre o motivo da escolha desse dia, não há dúvidas de que sua origem remonta às lutas das mulheres trabalhadoras em todo o mundo. Marco da unificação do movimento feminista revolucionário internacional em sua luta contra o machismo e pela superação do capitalismo, o 8 de março é um dia de luta da mulher trabalhadora, e esse caráter deve ser defendido contra as permanentes tentativas da burguesia de se apropriar da data - seja para transformá-la em mais um dia para aquecer vendas ou, principalmente, difundir a ilusão conciliatória de que “as mulheres já conquistaram seu espaço” no capitalismo.

A situação das mulheres nos dias atuais só pode ser compreendida a partir de uma reflexão profunda sobre a estrutura do sistema em que vivemos. Diante das mais variadas expressões da brutalidade e violência capitalistas, não é preciso muito esforço para perceber que são as mulheres trabalhadoras, setor mais explorado da classe, que sofrem suas conseqüências com maior dureza. Ainda hoje, é comum que mulheres recebam salários mais baixos do que os homens, mesmo desempenhando funções iguais. Esse simples dado evidencia como o machismo é um instrumento necessário ao capitalismo, à medida que garante maiores taxas de lucro a partir da superexploração das mulheres.

É claro que, à exploração econômica, somam-se os estereótipos e convenções sociais que definem o lugar da mulher na sociedade com vistas à manutenção da estrutura dessa própria sociedade. Naturaliza-se a responsabilidade feminina pelas tarefas domésticas, naturalizam-se as duplas ou triplas jornadas a que estão submetidas as mulheres trabalhadoras diante da ausência de serviços públicos de qualidade, naturaliza-se a mercantilização de seus corpos e de suas vidas pela publicidade. Naturaliza-se a ideia de que à mulher compete o ambiente privado, seja através das formas mais tradicionais de submissão ao ambiente patriarcal ou através de sua roupagem ‘moderna’: a sua conversão em objeto de consumo.

Se pensarmos a situação das mulheres a partir de sua relação com a sociedade em que estão inseridas, entenderemos porque o debate de gênero só pode ser feito de maneira conseqüente se estiver aliado a uma perspectiva de classe. A superação da desigualdade entre homens e mulheres só pode ser alcançada através da superação da própria sociedade de classes. Igualmente, a luta feminista é um elemento indispensável para a luta contra o capitalismo, que expõe suas contradições de maneira decisiva e é capaz de dar respostas conseqüentes às mulheres que sofrem na pele as diárias manifestações da opressão.

Justamente por isso, as lutas feministas precisam ser inseridas na conjuntura, na concreticidade da luta de classes. Uma luta feminista conseqüente, classista e revolucionária passa, hoje, pelo necessário combate às reformas neoliberais do governo Lula/PT. As reformas que retiram direitos dos trabalhadores atingirão, sem dúvida, de forma ainda mais violenta, as mulheres. É precisamente a ausência de políticas públicas para saúde, educação, transporte, moradia e trabalho que impõe às mulheres duplas ou triplas jornadas de trabalho. Da mesma forma, a política externa de Lula/PT, que aplica os interesses imperialistas através do envio de tropas militares ao Haiti, não só é responsável pela manutenção da situação de miséria e exploração dos trabalhadores daquele país como também pela submissão de milhares de trabalhadoras a brutais (e notórias) situações de violência sexual praticadas pelos soldados invasores.

Não há como não citar, também, os inadmissíveis casos da ingerência do Estado sobre o corpo e a vida das mulheres. A luta pela legalização do aborto deve ser pauta das mobilizações feministas, em defesa da saúde de milhares de mulheres trabalhadoras que morrem ou ficam com graves seqüelas em decorrência da realização de abortos clandestinos. É uma dura batalha que o movimento deve travar, contra a moral católica e machista que naturaliza a maternidade e nega às mulheres o direito de decidir se e quando serão mães. E, mais uma vez, também nesse aspecto o governo Lula revela com quem está verdadeiramente comprometido. Em seu último ano de mandato, apresenta timidamente o debate sobre a legalização do aborto na terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), no que recua após a primeira manifestação contrária da Igreja Católica e demais setores conservadores. A candidata do governo à presidência, Dilma Roussef, já declarou, para acalmar os ânimos de seus aliados, que o tema a legalização do aborto não faz parte de seu programa de governo.

Diante de tantos elementos para denúncia da política opressora de Lula/PT na luta feminista, é obrigação da esquerda revolucionária imprimir um caráter abertamente anti-governista aos atos do 8 de março. Nós, do Coletivo Marxista, acreditamos que a luta feminista só tem sentido se inserida na luta de classes, e por isso chamamos todos os companheiros e companheiras a construir o feminismo revolucionário a partir da concreticidade da luta de classes, derrotando Lula/PT e suas políticas de ataque à mulher trabalhadora. Não queremos incluir as mulheres nesta sociedade cruel e opressora. Queremos, isso sim, que as mulheres se libertem destruindo esta sociedade e construindo o socialismo!

‘A nossa luta é todo dia! Somos mulheres, e não mercadoria!’

Coletivo Marxista


http://coletivomarxista.blogspot.com/2010/03/8-de-marco-lutar-contra-opressao-da.html

sábado, 6 de março de 2010

"Calma, é só um treinamento"


O Jornal do Brasil do sábado passado (27 de fevereiro de 2010) trouxe uma grande foto estampada em sua primeira página, sobre a qual havia escrito o seguinte: “Os ianques não estão invadindo o Brasil, como brincaram alguns quando viram o porta-aviões americano na Baía de Guanabara. Ele participa de um treino com a Marinha Brasileira.” A foto mostra o enorme porta-aviões estadunidense, ancorado na Baía entre a pista do aeroporto Santos Dumont e a Ponte Rio-Niterói. Ainda estava lá no domingo, quando fiz a viagem Rio-Niterói-Rio. Sua localização chama a atenção de todos os que passam pela ponte, tão visível como nenhum navio da Marinha do Brasil esteve nos últimos anos. Não sei se hoje ainda está.

Mas o JB diz que devemos ficar tranquilos, que não é absolutamente nada. É só um treinamento... Levando em consideração a história das relações entre os EUA e a América Latina e suas guerras imperialistas pelo mundo afora, nada levaria a crer que se trata de “exercícios de treinamento”. Então, o que explicaria essa “boa vontade” do JB ao tratar da presença da Marinha do EUA na Baía de Guanabara, em local tão publicamente visível? Alguns indícios podem ajudar a explicar a questão. Talvez a parceria firmada entre o Jornal do Brasil e o New York Times – que frequentemente tem reportagens e artigos de suas páginas publicados no JB – determine, em alguma medida, sua “ingenuidade”. Certamente essa parceria envolve algum financiamento.

O fato é que, ao menos simbolicamente, se trata de mais do que um treinamento qualquer. No mínimo, é uma certa intimidação, que já foi realizada outras vezes recentemente. Mas é impossível analisar algo tão complexo como o imperialismo – de forma minimamente coerente – observando-se exclusivamente situações isoladas.

Desde o início do governo Obama, há uma escalada do imperialismo estadunidense. Em meio aos seus pomposos e bem elaborados discursos, os orçamentos para a defesa nacional (ou ataque?) têm sido recordistas, superiores até mesmo aos de seu antecessor, Bush filho. E, a cada ano, é sempre a mesma história. Obama aparece discursando belamente, dizendo que vai acabar com as guerras, que irá realizar cortes nos investimentos militares, que quer a paz mundial etc. etc., mas os orçamentos para a defesa nacional dos EUA só fazem aumentar. Em 2009, o orçamento do Pentágono para 2010 foi fechado em 534 bilhões de dólares! Em 2010, o governo Obama pede, para 2011, um orçamento de 708 bilhões de dólares para a defesa! Este seria mais um valor recorde, como diz a reportagem da Reuters publicada no Último Segundo.

Esses valores astronômicos têm sido empenhados pelo governo Obama de diversas formas: a ampliação do número de militares presentes em Afeganistão e Iraque; a instalação de novas bases militares dos EUA pelo mundo, como na Colômbia; ampliação das frentes de invasões e ocupações militares, como a que ocorreu recentemente no Haiti.

Lembro, também, que a passagem do submarino por águas latino-americanas coincide com a visita de Hillary Clinton, secretária de Estado do governo Obama, mas não por acaso. Representando a política externa dos EUA, veio dizer com quem os países da América Latina devem ou não relacionar-se, e ratificar que não devem desenvolver programas atômicos com fins militares, mas sim confiar plenamente na proteção imperialista estadunidense.

Com tudo o que tem acontecido mundo afora nos últimos anos, alguns amigos com quem debato ainda dizem que o conceito de imperialismo é ultrapassado, característico da passagem do século XIX para o século XX. Entendo que um conceito ou um método de analisar a realidade só podem ser considerados inúteis se não servem para explicar a realidade que pretendem explicar. O conceito de imperialismo, certamente, ainda contribui para a compreensão da realidade, muito para além das informações isoladas e fragmentadas com as quais nos deparamos cotidianamente. Bom, muito resumidamente, Lenin falava, em Imperialismo, fase superior do capitalismo, que se trata de uma fase do capitalismo em que se verifica o auge do processo de monopolização do capital industrial e sua relação íntima com o capital financeiro; analisava também o papel do Estado neste processo, como colaborador e meio de reprodução da acumulação de capital pelos monopólios, inclusive através de guerras e ocupações imperialistas. Se o capitalismo, em certos aspectos, modificou-se bastante desde o início do século XX aos dias atuais, em sua caracterização central não houve alterações.

Os cartéis internacionais mostram até que ponto crescem os monopólios, e quais são os objetivos da luta que se desenvolve entre os grupos capitalistas. (...) A forma de lutar pode mudar, e muda constantemente, de acordo com diversas causas, relativamente particulares e temporais, enquanto a essência da luta, o seu caráter de classe, não pode mudar enquanto subsistirem as classes. (1)

Lembro de um trecho do filme “Fahrenheit 9/11”, de Michael Moore – que tem os seus problemas, mas apresenta informações e conclusões iniciais interessantes –, em que Moore visita uma conferência à qual estão presentes os representantes de grandes empresas monopolistas para definir como irão participar da “reconstrução do Iraque”, após a invasão e ocupação militar realizada em nome das “armas de destruição em massa” inexistentes e da "difusão da democracia" pelo mundo, em que colocam fantoches dos interesses imperialistas para dirigirem os países dominados (lembrar do caso afegão).

O mito Obama

Obama tornou-se um mito, desde a época em que iniciava sua campanha e enchia de esperança pobres corações pelo mundo, desesperados pela aparição de algum salvador, algum ser lúcido que pudesse impedir, de alguma forma, os avanços do imperialismo dos EUA, baseados ainda em sua supremacia econômica e militar. Os belíssimos discursos para tantas milhares de pessoas em diversas partes do mundo foram emocionantes. Porém, não duraram muitos dias no governo. Hoje, boa parte daqueles que um dia acreditaram já se desiludiu completamente com a figura de Obama.

O mais cínico prêmio Nobel dos últimos anos foi entregue a Barack Obama. Ele recebeu o Nobel da Paz, mas no discurso de premiação justificou as suas guerras. É claro, não poderia ser diferente, para ser minimamente coerente. Sugiro a leitura do artigo de José Luís Fiori, na Carta Maior, que apresenta análises importantes:

A confusão já era grande, e ficou ainda maior, depois do discurso do presidente norte-americano, Barack Obama, em defesa da guerra, ao receber o Prêmio Nobel da Paz, de 2009. Como liberal, Obama poderia ter utilizado os argumentos do filósofo alemão, Immanuel Kant (1724-1804), que também defendeu, na sua época, a legitimidade das guerras, como meio de difusão da civilização européia, até que chegasse a hora da “paz perpétua”. Mas Obama preferiu voltar à Idade Média e recorrer às idéias de São Agostinho (354-430) e de Santo Tomás de Aquino (1225-1274), sobre a legitimidade moral das “guerras justas”. (2)

O maior aprendizado, certamente: nossos sonhos não cabem nas urnas! Jamais caberão. Não virá nenhum salvador, nenhum grande personagem histórico, nenhum milagre. Nada disso. As eleições são somente uma pequena parte de todo um processo necessário a qualquer grande transformação social, que precisa de bases reais para concretizar-se. Ou fazemos acontecer, ou será desilusão atrás de desilusão.


Notas:

(1) http://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/cap5.htm (grifos meus)

(2) http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4496

segunda-feira, 1 de março de 2010

Glorioso campeão, o "chororô" dos rivais, Pet e o socialismo


“Na estrada dos louros
um facho de luz,
tua estrela solitária
te conduz.”
(Hino popular do Glorioso, de Lamartine Babo num dia inspirado)

O Botafogo, vencendo os campeões da primeira e da segundona, mais uma vez é o campeão da Taça Guanabara. Admito, com um futebol bastante feio, mas com muito mais vontade do que Flamengo – time de ressaca do carnaval, aparentemente ainda estava com alto teor alcoólico no sangue – e Vasco – assim como o Botafogo, de qualidade duvidosa. Parabéns ao Fogão!

Como muitos, eu também sempre desconfiei um pouco do Joel Santana. Neste momento, não há como negar que ele deu outra cara ao time do Botafogo, muito mais aguerrido do que tem sido nos últimos tempos. Talvez seja o início do fim da marca do “chororô” entre os botafoguenses, pois tenho a impressão de que essa foi muito influenciada pelo comando do Cuca, marca esta que os outros times posteriores do Bota não conseguiram abandonar completamente.

Por alguns dias sentimos e sentiremos o “chororô” de todos os que gozaram o Fogão por este nome – especialmente os flamenguistas, os mais fanáticos (no mau sentido) e esnobes. Beleza. Aprenderão e serão lembrados diversas vezes que não se ganha sempre. O Flamengo ainda conseguiu ganhar o jogo da Libertadores; vamos ver como irá daqui pra frente. Seria ótimo enfrentá-los na final do Taça Rio... Conhecendo bem, se perderem dirão que “é porque estamos priorizando a Libertadores, o Estadual não vale nada."

Pra finalizar (sobre o Bota), algumas citações que estão à altura do Glorioso (1):

“No Rio, a formação da identidade passa, também, pela eleição de um time de futebol. O poeta, fiel à sua infância, escolhe o Botafogo Futebol Clube. Não frequenta os estádios. Não lê o noticiário esportivo. Não ouve as transmissões pelo rádio. Mas, se perguntam seu time, afirma: ‘Botafogo’. Não se trata de uma paixão, mas de uma senha para a cidadania.”

Vinicius de Moraes

“Botafogo é um menino de rua perdido na poética dramaticidade do futebol.”

Paulo Mendes Campos

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Em meio ao "chororô" no Estadual, os flamenguistas podem, ao menos, ficar felizes por terem em seu time o jogador mais consciente do campeonato. O Pet defendendo o socialismo – mesmo que em poucas palavras, de forma bem simples, sem problematizar muito – na Globo (profundamente anti-comunista e anti-socialista), diante da Ana Maria Braga, foi bem bonito de se ver. Ele diz, sobre a Iugoslávia: “Quando nasci não tinha dificuldade nenhuma, era um país maravilha. A gente vivia um regime socialista, todo mundo bem, todo mundo trabalhando, tem trabalho, tem salário. Problemas aconteceram depois dos anos 80.”


Nota:

(1) Citações emprestadas de Botafogo: entre o céu e o inferno, do jornalista Sérgio Augusto, Ed. Ediouro, 2004.